Narração: David Mourão-Ferreira
Guitarra: Fontes Rocha
Viola: Pedro Leal
Fados de Amália e narração de David Mourão-Ferreira gravados no estúdios Valentim de Carvalho, em Paço d'Arcos
Engenheiro de gravação e mistura: Hugo Ribeiro
Reedição coordenada por: Rui Chen e Jorge Mourinha
Fotografias: Augusto Cabrita
Restauro e masterizacão digital: Estúdios Tcha Tcha Tcha
Adaptação gráfica para CD: Roda Dentada
Gravação realizada em casa de Amália Rodrigues, na Rua São Bento, em Lisboa, a 19 de dezembro de 1968.
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Faixas
01 - Retrato de Amália (02:59)
02 - Defesa do poeta (03:07)
03 - Havemos de ir a Viana (04:06)
04 - Monólogo de Orfeu (03:35)
05 - Poema dos olhos da amada (02:32)
06 - Abandono (05:02)
07 - Formosinha de Elvas (01:35)
08 - O objeto (01:09)
09 - Dia da criação (06:40)
10 - Fado para a lua de Lisboa (02:35)
11 - Gaivota (03:57)
12 - Balada do mangue (03:17)
13 - Saudades do Brasil em Portugal (03:08)
14 - Saudades do Brasil em Portugal (02:08)
15 - Pra que chorar (04:34)
16 - O retrato do poeta (01:35)
17 - Fado português (02:36)
18 - Autogénese (02:56)
19 - Mensagem (05:25)
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Amália / Vinicius
Jorge Mourinha
Os serões em casa de Amália tornaram-se, com o decorrer do tempo, lendários; longas noites em que ela recebia em sua casa os poetas de quem gostava ou com quem regularmente trabalhava, deixando o fado e a poesia fortalecer laços que Amália muito ajudou a criar. E Amália sempre soube escolher; e quem ela escolhia cantar foram alguns dos nossos mais inspirados poetas, que lhe retribuíram com algumas das mais belas passagens jamais cantadas em língua portuguesa.
O serão que agora têm nas mãos poderia ter sido mais um desses incontáveis serões, que raramente (para infelicidade nossa!) terão sido registrados, não fosse a presença de Vinicius de Moraes, o poeta da bossa nova que, de passagem por Lisboa, foi prestar as suas homenagens a Amália, numa oportunidade que era demasiado boa para deixar passar; Rui Valentim de Carvalho fez deslocar os gravadores de Paço d’Arcos para casa da sua Artista e o fiel engenheiro de som, Hugo Ribeiro, registrou uma noite em que Vinicius, Natália Correia e dois cúmplices da cantora, Ary dos Santos e David Mourão-Ferreira, trocaram poemas e momentos. Tudo sob o olhar de uma Amália patrona da arte, que se dignava a espaços presentear os convidados com o dom da sua voz.
É claro que nem tudo é perfeito, ao contrário do que a lenda sugere e do que o disco dá a entender. Hugo Riberio recorda hoje que os fados que Amália cantou para Vinicius e para os seus convidados nessa noite não ficaram, infelizmente e por mortivos que se perderam no tempo, registrados com a qualidade técnica que uma edição em disco exigia. Por isso, aquando da selecção do material para inclusão no álbum (LP duplo, formato inaudito em Portugal nessa época!) e para não privar os admiradores de ambos os Artistas de partilhar uma tal ocasião, os momentos musicais inutilizáveis foram substituídos por novas gravações que Amália foi a estúdio realizar propositadamente, depois cuidadosamente integradas e misturadas com perícia para criar a ilusão de terem ocorrido na mesma noite. "Ela até estava com a voz um bocadinho roufenha nessa noite, mas cantou na mesma como se nada fosse. E deu-me um trabalhão fazer a montagem!", recorda Hugo Ribeiro. "Foi tudo feito à mão, a cortar e colar fita, para não ter de ir fazer cópias que iriam degradar o original. Mas nunca ninguém percebeu que não tinha sido tudo gravado na mesma noite". E, para situar melhor os ouvintes, David Mourão-Ferreira (que chegara a orientar a série de edições "A Voz e o Texto" que a Velentim de Carvalho preenchia com gravações de poesia) registrou posteriormente pequenos comentários introdutórios. "Só os fados e as introduções do David Mourão-Ferreira foram feitos em Paço d’Arcos. Tudo o resto foi gravado em casa de Amália". O resultado ficou na história como um documento único da paixão de Amália pela poesia; como exemplo da velha tradição da "tertúlia" que já então, nos alvores do marcelismo e escassos anos antes do 25 de abril, se começava a perder; como registro de algumas das mais extraordinárias vozes poéticas que a língua portuguesa já conheceu.
É nesse espírito que vos devolvemos "Amália / Vinicius – Vinicius em casa de Amália", finalmente reposto em CD respeitando na íntegra a edição e a sequenciação original: como um documento. Sem tempo nem preço.
Vinicius em casa de Amália
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Quando um grande poeta vai a casa de uma grande intérprete, é inevitável que se fale de poesia, que se recite e cante poesia, que surja poesia.
O poeta, neste caso, é Vinicius de Moraes; a intérprete, Amália Rodrigues. E estavam presentes outros poetas: uns em presença física – Natália Correia, David Mourão-Ferreira, José Carlos Ary dos Santos –, outros apenas em espírito – José Régio, Pedro Homem de Mello, Alexandre O’Neill.
Do que foi essa noite de convívio poético, este álbum dirá muito mais que todas as palavras de apresentação. É que se encontrava lá um gravador; e havia um microfone oculto entre as flores de uma jarra… O trabalho, depois, foi o de selecionar; na mesa de montagem, o material que daria, pelo menos, para mais meia-dúzia de discos como este.
Um dos presentes encarregou-se, então, de acrescentar uns breves comentários e de estabelecer umas quantas "ligações" sempre que pareceram necessárias. E eis o álbum.
Um álbum simples, de convívio simples, em que ninguém pretendeu dizer coisas profundas ou definitivas, em que todos, pelo contrário souberam apagar-se ante a voz mais alta da poesia: da própria e da alheia. É pois um álbum de poesia, de poesia dita e de poesia cantada, de poesia vivida em fraterna comunhão por três qualificados representantes da poesia portuguesa contemporânia, por um grande poeta do Brasil – que é também um grande compositor, responsável pela fecunda renovação da canção brasileira, e um dos "show-men" mais em evidência no panorama da música atual – e por uma grande intérprete da poesia e da música portuguesas, cujo nome constitui, de há muito e em todo o mundo, o mais sortílego cartaz de Portugal.
Jorge Mourinha
Os serões em casa de Amália tornaram-se, com o decorrer do tempo, lendários; longas noites em que ela recebia em sua casa os poetas de quem gostava ou com quem regularmente trabalhava, deixando o fado e a poesia fortalecer laços que Amália muito ajudou a criar. E Amália sempre soube escolher; e quem ela escolhia cantar foram alguns dos nossos mais inspirados poetas, que lhe retribuíram com algumas das mais belas passagens jamais cantadas em língua portuguesa.
O serão que agora têm nas mãos poderia ter sido mais um desses incontáveis serões, que raramente (para infelicidade nossa!) terão sido registrados, não fosse a presença de Vinicius de Moraes, o poeta da bossa nova que, de passagem por Lisboa, foi prestar as suas homenagens a Amália, numa oportunidade que era demasiado boa para deixar passar; Rui Valentim de Carvalho fez deslocar os gravadores de Paço d’Arcos para casa da sua Artista e o fiel engenheiro de som, Hugo Ribeiro, registrou uma noite em que Vinicius, Natália Correia e dois cúmplices da cantora, Ary dos Santos e David Mourão-Ferreira, trocaram poemas e momentos. Tudo sob o olhar de uma Amália patrona da arte, que se dignava a espaços presentear os convidados com o dom da sua voz.
É claro que nem tudo é perfeito, ao contrário do que a lenda sugere e do que o disco dá a entender. Hugo Riberio recorda hoje que os fados que Amália cantou para Vinicius e para os seus convidados nessa noite não ficaram, infelizmente e por mortivos que se perderam no tempo, registrados com a qualidade técnica que uma edição em disco exigia. Por isso, aquando da selecção do material para inclusão no álbum (LP duplo, formato inaudito em Portugal nessa época!) e para não privar os admiradores de ambos os Artistas de partilhar uma tal ocasião, os momentos musicais inutilizáveis foram substituídos por novas gravações que Amália foi a estúdio realizar propositadamente, depois cuidadosamente integradas e misturadas com perícia para criar a ilusão de terem ocorrido na mesma noite. "Ela até estava com a voz um bocadinho roufenha nessa noite, mas cantou na mesma como se nada fosse. E deu-me um trabalhão fazer a montagem!", recorda Hugo Ribeiro. "Foi tudo feito à mão, a cortar e colar fita, para não ter de ir fazer cópias que iriam degradar o original. Mas nunca ninguém percebeu que não tinha sido tudo gravado na mesma noite". E, para situar melhor os ouvintes, David Mourão-Ferreira (que chegara a orientar a série de edições "A Voz e o Texto" que a Velentim de Carvalho preenchia com gravações de poesia) registrou posteriormente pequenos comentários introdutórios. "Só os fados e as introduções do David Mourão-Ferreira foram feitos em Paço d’Arcos. Tudo o resto foi gravado em casa de Amália". O resultado ficou na história como um documento único da paixão de Amália pela poesia; como exemplo da velha tradição da "tertúlia" que já então, nos alvores do marcelismo e escassos anos antes do 25 de abril, se começava a perder; como registro de algumas das mais extraordinárias vozes poéticas que a língua portuguesa já conheceu.
É nesse espírito que vos devolvemos "Amália / Vinicius – Vinicius em casa de Amália", finalmente reposto em CD respeitando na íntegra a edição e a sequenciação original: como um documento. Sem tempo nem preço.
Vinicius em casa de Amália
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Quando um grande poeta vai a casa de uma grande intérprete, é inevitável que se fale de poesia, que se recite e cante poesia, que surja poesia.
O poeta, neste caso, é Vinicius de Moraes; a intérprete, Amália Rodrigues. E estavam presentes outros poetas: uns em presença física – Natália Correia, David Mourão-Ferreira, José Carlos Ary dos Santos –, outros apenas em espírito – José Régio, Pedro Homem de Mello, Alexandre O’Neill.
Do que foi essa noite de convívio poético, este álbum dirá muito mais que todas as palavras de apresentação. É que se encontrava lá um gravador; e havia um microfone oculto entre as flores de uma jarra… O trabalho, depois, foi o de selecionar; na mesa de montagem, o material que daria, pelo menos, para mais meia-dúzia de discos como este.
Um dos presentes encarregou-se, então, de acrescentar uns breves comentários e de estabelecer umas quantas "ligações" sempre que pareceram necessárias. E eis o álbum.
Um álbum simples, de convívio simples, em que ninguém pretendeu dizer coisas profundas ou definitivas, em que todos, pelo contrário souberam apagar-se ante a voz mais alta da poesia: da própria e da alheia. É pois um álbum de poesia, de poesia dita e de poesia cantada, de poesia vivida em fraterna comunhão por três qualificados representantes da poesia portuguesa contemporânia, por um grande poeta do Brasil – que é também um grande compositor, responsável pela fecunda renovação da canção brasileira, e um dos "show-men" mais em evidência no panorama da música atual – e por uma grande intérprete da poesia e da música portuguesas, cujo nome constitui, de há muito e em todo o mundo, o mais sortílego cartaz de Portugal.
4 comentários:
Meu amigo, obrigado pela partilha.
Trata-se de um ajuntamento de génios artisticos, coisa que tem muito pouca probabilidade de voltar a acontecer!
Disponha sempre amigo Samuraize!!
É verdade! É alta Literatura é alta Poesia, sorte podermos reviver isso através dessas gravações! Graças a internet que nos permite compartilhar.
Um abraço.
simplesmente perfeito!!
Há registro em vídeo dessa obra de arte??
se houver, ajude-me a encontrá-la, senão, qualquer outra será muito bem vinda!
Infelizmente não foi realizado registo de imagem, existem porém algumas fotos do evento.
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